quarta-feira, 4 de julho de 2007

A rua, a praça, a cidade e o homem.

Aproveito a estrutura em tópicos do livro de F. Choay para analizar a obra de Camillo Sitte.


“Aristóteles resumiu todos os princípios da construção das cidades nesta sentença: "Uma cidade deve ser construída de modo a proporcionar a seus habitantes segurança e felicidade."” ¹

Além da “cidade para o cidadão”, existia, para Sitte, um “problema estético” que deveria ser trabalhado, e que jamais poderia ser resolvido somente com um saber técnico. Suas experiências com modelos da Antigüidade e Renascença não foram escolhidas ao caso. Há algo ali que deu certo, e que podia ser provado. Ele entra assim, como um defensor dos monumentos históricos e das pré-existências dos locais em futura expansão. Este estudo do passado foi norteador do seu trabalho, e justifica seus pensamentos para a ordenação das cidades: os espaços públicos, fluxos, permanências e apropriações.

Há primeiro, a questão sanitarista que muito incomodava o arquiteto vienense: a modernidade trouxe o avanço da medicina, a descoberta de novas doenças, e fez com que as cidades tivessem que abrigar uma nova infra-estrututura com ênfase à higiene e saúde, comprometendo assim, o desenho orgânico das cidades. Sitte comprou briga com os planificadores alemães também na questão dos traçados das ruas. Já que a cidade só é percebida em fragmentos por aqueles que nela transitam, as ruas deveriam ser nada mais que um reflexo disso. E portanto, preconizou em plena era da “ epidemia do padrão simétrico” as formas livres, as ruas com visual interrompido, as esquinas quebradas, o organicismo do desenho urbano, enfurecendo os engenheiros em questão.

“O que Sitte trata em seu livro é de fato, a primeira fase da transformação de Viena, aproximadamente até 1980. A fase seguinte denominou-se ” segundo renascimento vienense”. A terceira e última fase do planejamento ocorreu após 1904, sob o domínio das idéias de Otto Wagner, para quem a rua foi a rainha, a artéria dos homens em movimento. Para ele, a praça serviria mais como meta da rua, dando direção e orientação aos transeuntes. O estilo, a paisagem, todos os elementos pelos quais Sitte procurava a variedade e o pinturesco na luta contra a anomia moderna, Otto Wagner empregou-as basicamente para reforçar o poder da rua e sua trajetória temporal.” ³

Em segundo lugar, Sitte estava convencido de que a beleza das praças antigas se devia ao fato de terem sido projetadas para descrever um espaço para a vida pública. Mais uma vez, provava que a funcionalidade poderia andar ao lado da beleza”, e sobretudo, a atração pelo enigma resolvido de um espaço capaz de conjugar interioridade e exterioridade, ao mesmo tempo, aberto e fechado”². Como a extensão de sua casa.

Já naquela época, nada poderia ser feito para combater a modernidade: se as notícias não são mais gritadas por arautos e sim, lidas facilmente em jornais, se as praças não são mais pontos de encontro para se debater política, se as fontes só possuem agora valores decorativos e se as esculturas saem das ruas e trancam-se em museus. Sitte dizia: “ não podemos mudar esta situação e o construtor de cidades, assim como o arquiteto, deve traçar seus planos na escala das capitais modernas de vários milhões de habitantes”.

Então, quais eram as propostas?







¹. Frase de Camillo Sitte em A construção das cidades segundo seus princípios artísticos.
². Trecho retirado do texto de Rosangela Maria dos Santos, Camillo Sitte: A importância de suas idéias na atual prática profissional da arquitetura e do planejamento urbano.
³. Idem.

Um comentário:

Clara Luiza Miranda disse...

Aristóteles disse "uma cidade é feita por homens diferentes homens iguais não poderiam construí-la"...
bela frase tbm